Morador surdo cobra acessibilidade e propõe criação de central de Libras

por adm publicado 13/05/2025 10h10, última modificação 13/05/2025 10h10
Wilson fez uso da Tribuna Livre na última reunião ordinária

Apesar dos avanços legais no reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio oficial de comunicação, a realidade para a comunidade surda em cidades como Viçosa ainda é marcada por exclusão e obstáculos. Falta de intérpretes, ausência de políticas públicas efetivas e desconhecimento sobre a cultura surda são apenas alguns dos desafios enfrentados diariamente. Nos hospitais, escolas, repartições públicas e até em situações de emergência, a comunicação se torna um impasse — e, muitas vezes, uma ameaça à vida.

Foi esse cenário que motivou o cidadão Wilson Fernando Pereira da Silva, membro da comunidade surda, a utilizar a Tribuna Livre durante a reunião ordinária desta segunda-feira (12). Comunicando-se em Libras, com tradução simultânea feita pelo intérprete Eduardo Andrade Gomes, Wilson fez um apelo por inclusão e acessibilidade em espaços públicos e privados do município.

Wilson destacou as inúmeras barreiras enfrentadas por surdos em instituições como hospitais, bancos, escolas e órgãos do sistema judiciário, onde a comunicação é comprometida pela ausência de intérpretes de Libras. Ele relatou casos concretos, como o de uma mãe surda que não conseguiu atendimento adequado para seu filho em um hospital da cidade por não conseguir se comunicar com os profissionais de saúde. “A criança estava com febre, e a mãe não sabia qual medicamento poderia dar. Isso mostra o quanto a falta de comunicação pode colocar vidas em risco”, afirmou Wilson.

Como proposta, ele defendeu a criação de uma Central de Libras em Viçosa, com a presença permanente de dois ou três intérpretes que possam acompanhar pessoas surdas em diferentes serviços. Segundo ele, essa central garantiria um suporte básico de acessibilidade em todas as áreas, promovendo a autonomia da comunidade surda.

Wilson também destacou a importância da presença de instrutores surdos no ensino da Libras, especialmente para crianças e adolescentes. Para ele, esses profissionais são fundamentais na transmissão da língua de sinais, pois compartilham vivências e experiências culturais que fortalecem a identidade surda. “Não há um espaço em Viçosa que atenda a comunidade surda com eficiência. Isso não é algo trivial, é necessário. Precisamos nos movimentar e lutar para que nossos direitos sejam respeitados”, reforçou.

Wilson agradeceu o apoio que tem recebido do vereador professor Idelmino e de outros parlamentares, e finalizou sua fala com um lema do movimento surdo: “Nada sobre nós, sem nós”. Ele enfatizou que pessoas surdas devem participar ativamente da construção de políticas públicas voltadas para a acessibilidade.

O presidente da Casa, vereador Robson Souza, elogiou a participação de Wilson e lembrou que a Câmara já tem tomado iniciativas para promover a inclusão além das reuniões ordinárias, que contam com tradução em Libras. Robson lembrou que recentemente foi firmado um convênio com o CELIB/UFV para capacitar os servidores do Legislativo em Libras. Além disso, a Secretaria Municipal de Educação, em parceria com o CELIB, estuda implementar cursos para a comunidade nas escolas da rede municipal.

Ainda segundo Robson, a Câmara já estendeu o convite para que profissionais dos hospitais São Sebastião e São João Batista participem do curso de Libras na Câmara, de modo a melhorar o atendimento a pessoas surdas nessas instituições. No entanto, ele informou que ainda aguarda retorno dos hospitais quanto à adesão aos cursos.

Assessoria de Comunicação
Foto: Divulgação/Câmara de Viçosa